Uma espécie de cipreste rara e em vias de extinção tem uma sexualidade única no mundo vegetal, que lhe permite reproduzir-se com o auxílio de outra espécie, segundo investigadores franceses e italianos.
A descoberta, da responsabilidade de dois cientistas do Instituto francês de Pesquisa Agronómica (INRA) em Avignon e dois cientistas da Universidade de Florença, vai ser publicada na edição de quinta-feira da revista Nature.
O cipreste Tassili subsiste hoje apenas no sudeste da Argélia, restando 231 exemplares que já não se reproduzem. Condenada à extinção, a espécie suscitou a curiosidade dos cientistas.
Investigadores franceses já tinham notado nas sementes destas árvores características que os levavam a pensar que os embriões não eram resultado da fecundação das gâmetas (células reprodutivas) machos e fêmeas, como é normal entre os vegetais mais desenvolvidos, mas sim fruto do desenvolvimento das sementes de pólen.
O pólen do cipreste de Tassili, segundo este novo estudo, é capaz de produzir, sozinho, um embrião nas sementes de outra espécie, que serviria assim de "mãe portadora".
Os cientistas estudaram os resultados de cruzamentos controlados do cipreste de Tassili e de ciprestes da Provence, cruzamentos que se podem produzir espontaneamente na natureza.
Morfologicamente e geneticamente, constataram, os produtos obtidos são "rigorosamente idênticos" ao parente macho, o cipreste de Tassili: o grão de pólen do cipreste de Tassili não possui apenas metade dos cromossomas da espécie, como seria normal, mas a totalidade.
Até aqui, os botânicos conheciam alguns casos de desenvolvimento do embrião a partir de um único progenitor, sempre a mãe, um fenómeno denominado "apomixia".
O modo de reprodução deste cipreste é o único caso de "apomixia paternal" até agora conhecido nas plantas.
Para Christian Pichot, investigador do INRA e um dos autores do estudo, esta apomixia constituiu provavelmente "uma adaptação genética, seleccionada no processo de evolução, em resposta aos constrangimentos demográficos que pesam sobre a espécie".
Nas populações extremamente adultas, como é o caso dos ciprestes de Tassili, a reprodução sexuada envolve habitualmente uma forte consanguinidade, aumentando o risco de extinção da espécie.
A apomixia, permitindo a reprodução sem fecundação, evitaria este perigo. No entanto, tratou-se apenas de um adiamento da extinção da espécie, já que apenas a mistura genética pode garantir uma adaptação a longo termo.
Lusa
