O que é? | Como se manifesta? |
Qual a sua frequência? | Como é feito o diagnóstico? |
Quais são as causas? | Qual o tratamento? |
Como se pode prevenir? | Qual é o prognóstico? |
O que é?
A Gota é uma condição clínica associada a níveis prolongadamente elevados de ácido úrico no sangue: hiperuricemia. A gota é uma doença articular comum e altamente incapacitante, quer pela dor provocada (surtos de gota) quer pelas deformidades associadas (gota tofácia crónica). O princípio básico encontra-se na constante de solubilidade do ácido úrico no sangue que, para níveis superiores a 6,5 mg/dl, pode precipitar sob a forma de cristais. Essa precipitação dá-se sobretudo nas áreas mais frias do organismo (dedos dos pés, por exemplo). Esta cristalização provoca o surto, que é das causas de inflamação articular provavelmente a mais dolorosa. Cerca de 2/3 dos doentes que sofreram um surto consideram ter sido a pior dor que tiveram na vida.
Qual a sua frequência?
Cerca de 1 em cada 100 pessoas desenvolvem gota. A doença aumentou significativamente de incidência nas últimas décadas, em todos os países desenvolvidos. Este aumento está relacionado com as alterações nas dietas alimentares e estilos de vida, mas também com o aumento da utilização de medicamentos que provocam hiperuricemia. É uma doença incomum em países pouco desenvolvidos.
Quais são as causas?
18% dos doentes têm história familiar e, destes, alguns têm um defeito enzimático na degradação das purinas, tendo uma hiperuricemia complicada de resolver. Habitualmente, é classificada como primária ou secundária, dependendo do que causa a hiperuricemia. Mais de 99% das gotas primárias não têm causa determinada e são consequência de uma combinação de alterações hormonais, genéticas e de factores relacionados com a dieta. A gota secundária é causada por medicação ou secundária a doenças (ex. Leucemias). Os seguintes factores aumentam o risco para esta doença:
-Idade avançada
-Sexo masculino
-História familiar
-Obesidade
-Uso de algumas drogas, incluindo diuréticos, aspirina, ciclosporina, ou levodopa
-Ingestão de alimentos ricos em purinas (carne e marisco)
-Excesso de bebidas alcoólicas, em particular cerveja
-Exposição ao chumbo
-Transplantes de órgãos
-Problemas de tiróide
-Outras doenças graves (leucemias e outros tumores de sangue)
Como se pode prevenir?
A prevenção é, por vezes, difícil, sobretudo se existe um componente familiar com defeitos metabólicos. A base da prevenção está, na maioria das vezes, na melhoria dos estilos alimentares, respeitando a dieta mediterrânica e a roda dos alimentos, evitando o consumo exagerado de carnes jovens, marisco e bebidas alcoólicas (sobretudo cerveja). Nos doentes com gota secundária deve ser discutido com o médico assistente qual a possibilidade de se substituir a medicação por outra que não interfira com o metabolismo do ácido úrico. Entra estas estão, em primeira linha, os medicamentos para as tensões arteriais. Por outro lado, os doentes com gota crónica devem evitar a exposição ao frio, sobretudo usar luvas e meias quentes, e devem pensar em efectuar uma medicação que previna crises (por exemplo, colchicina).
Como se manifesta?
A gota é uma doença com vários estádios e atingimentos, cada qual com manifestações clínicas próprias.
Gota articular aguda. É o estadio inicial da doença, é mais comum em homens e, habitualmente, é uma crise de inflamação articular muito típica, em que a articulação do dedo grande do pé é a mais atingida (Podagra). A articulação fica inchada e vermelha e muito dolorosa, com o tempo as crises podem atingir várias articulações ao mesmo tempo, com as mesmas características clínicas. Habitualmente, atingem quase sempre pequenas articulações dos pés e mãos, porém, virtualmente todas as articulações podem ser atingidas.
Gota Tofácia crónica e tofos. Após anos de crises agudas persistentes, a doença pode evoluir para gota tofácia crónica. Esta condição produz tofos, que são depósitos sólidos de ácido úrico que se formam nas articulações, cartilagens e ossos. Por vezes perfuram a pele, formando soluções de continuidade de onde saem pequenos nódulos leitosos. Em média, os tofos desenvolvem-se ao fim de 10 anos de doença.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico de uma crise de gota e de tofos gotosos é clínico, os exames complementares de diagnóstico são mais importantes para delinear o tratamento adequado do que para confirmar o diagnóstico. No entanto, em circunstâncias atípicas, como, por exemplo, quando uma crise atinge articulações menos comuns, os exames podem ser importantes para o diagnóstico. Nessas circunstâncias, a confirmação diagnóstica definitiva é feita na pesquisa de cristais numa punção articular. Quando esta não é possível, podemos aferir a possibilidade de ser gota com níveis elevados de ácido úrico no sangue ou, na sua ausência, nos níveis urinários elevados.
Qual o tratamento?
O tratamento desta doença é frequentemente mal orientado, por se tratar de uma doença difícil de lidar nas variadas vertentes. Podemos definir quatro tipos de tratamento: o tratamento da crise aguda, na qual é totalmente contra-indicado o uso de drogas que diminuam o ácido úrico no sangue, tratamento da gota crónica, o tratamento da hiperuricemia assintomática e as medidas dietéticas. Na gota aguda, a regra básica é não usar drogas que baixem o ácido úrico pois, nessa fase, estas provocam a recidiva constante de crises. Na crise aguda podem-se usar, em esquemas que são individualizados, anti-inflamatórios não esteróides, colchicina, corticóides e infiltrações locais de corticóides. Na gota crónica, temos duas medidas essenciais, o uso de colchicina entre 3 a 6 meses antes de se iniciarem drogas que baixem o ácido úrico, para que não haja crises nesse período, e, posteriormente, adaptação do tratamento ao tipo de gota existente (por exemplo: alopurinol, se houver uma grande quantidade urinária de ácido úrico, e suspensão de drogas que baixem a excreção, no caso de ácido úrico urinário baixo). As medidas dietéticas já foram referenciadas. A hiperuricemia assintomática não se trata com medicamentos para valores de ácido úrico no sangue inferiores a 12 mg/dl.
Qual é o prognóstico?
Se o tratamento for adequado e todas as vertentes forem pensadas, o prognóstico é muito favorável, sem sequelas. Nos casos crónicos, temos a gota poliarticular destrutiva, que condiciona uma grande incapacidade funcional e que se encontra associada a um mau prognóstico cardiovascular.